
Nos dias 29 e 30 de novembro de 2024, o Seminário “Mulheres e Agroecologia e o Enfrentamento às Mudanças Climáticas” reuniram cerca de 35 mulheres agricultoras, artesãs e quebradeiras de coco babaçu na sede da Acesa na cidade de Bacabal, Maranhão. O encontro, promovido pela Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura (Acesa), tornou-se símbolo na luta por justiça climática e agroecológica, abordando temas como a implementação das leis do Babaçu Livre, o enfrentamento ao uso de agrotóxicos e a valorização das práticas agroecológicas já desenvolvidas nas comunidades.
Com uma programação repleta de reflexões, troca de saberes, debates e ações práticas, o seminário teve como propósito central fortalecer a atuação das mulheres na defesa de seus territórios e na construção de políticas públicas que assegurem a preservação ambiental e o bem viver.
Dia 29: Reflexões e Ações Coletivas
A abertura do seminário foi marcada pelas estruturas de poder em ação: as mulheres acompanharam uma sessão da Câmara de Vereadores de Lago da Pedra, onde estava em pauta a Lei Contra Pulverização Aérea de Agrotóxicos. Esse foi o ponto de partida para uma série de debates conduzidas pels lideranças comunitárias, por Ariana Gomes, Rebeca Costa e Diogo Cabral.

Destaques das Reflexões
Mudanças Climáticas e Justiça Climática: Diogo Cabral, advogado popular, expõe como o agronegócio e o uso descontrolado de agrotóxicos têm comunidades tradicionais impactadas, promovendo o desmatamento, a grilagem de terras e a contaminação das águas. Ele alertou para os riscos de uma "guerra química" no Maranhão e reforçou a necessidade de ações estratégicas, como a criação e a efetivação de leis municipais contra a pulverização aérea de agrotóxicos por meio de aviões e drones.
Mulheres como Protagonistas: Rebeca Costa, advogada do MIQCB, trouxe à tona os desafios enfrentados pelas quebradeiras de coco na luta pelo livre acesso aos babaçuais, um direito historicamente ameaçado por preconceitos de gênero, interesses gananciosos do agronegócio e barreiras institucionais. Rebeca enfatizou que essas mulheres não são apenas guardiãs dos babaçuais, mas também defensoras ativas da sociobiodiversidade e da soberania alimentar em seus territórios.
Diagnóstico e Mobilização pela Agroecologia: Ariana Gomes, secretária executiva da Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA), apresentou o diagnóstico “Desafios enfrentados por quebradeiras de coco babaçu para garantia dos seus direitos de livre acesso aos babaçuais nos municípios de São Luís Gonzaga, Bacabal e Lago Verde, no Maranhão” a importância de compreender os impactos das mudanças climáticas nas comunidades rurais e nas práticas agroecológicas. Ariana também coordenou os trabalhos conectando as reflexões às estratégias de luta e mobilização coletiva das mulheres.
Dinâmicas e Compartilhamento de Experiências
Durante a tarde, as participantes se dividiram em grupos para discutir estratégias práticas, como a mobilização pela criação de leis municipais e a valorização das práticas agroecológicas existentes. A troca das experiências trouxe relatos emocionantes, como o de Conceição Martins, que quase perdeu familiares devido ao uso de agrotóxicos, e de Luísa Santos, que luta para preservar um dos poucos riachos de sua comunidade.
O dia encerrou com uma exposição de artesanatos, produtos agroecológicos e iniciativas sustentáveis realizadas por mulheres, seguida de um jantar cultural com música, poesia e danças tradicionais.
Dia 30: Bem-Estar e Avaliação
O segundo dia foi dedicado ao autocuidado e à avaliação coletiva. Em um espaço de lazer, as mulheres participaram de atividades de relaxamento, reforçando a importância do cuidado com a saúde mental e física para a sustentabilidade das lutas.
Na avaliação final, foram destacados os aprendizados do seminário e as ações prioritárias para os próximos meses. Entre os compromissos reforçados está a intensificação das denúncias contra os impactos do agronegócio e o fortalecimento das redes de apoio às mulheres agricultoras e quebradeiras de coco.

Mulheres que Transformam Territórios
O seminário reafirmou que as mulheres são protagonistas na construção de um futuro mais justo e sustentável. Seja no cultivo agroecológico, na luta por legislações mais inclusivas ou na preservação de recursos naturais, elas se posicionam na linha de frente contra as mudanças climáticas e as desigualdades sociais.
A Acesa segue firme no compromisso de amplificar as vozes dessas mulheres, reconhecendo que suas práticas e saberes são essenciais para a promoção da justiça climática e do bem viver.
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