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Barraginhas ajudam a mitigar efeitos das crises climáticas em Lago Verde-MA

  • Foto do escritor: acesabacabal
    acesabacabal
  • há 5 horas
  • 5 min de leitura

Tecnologia social garante uma maior umidade do solo e auxilia na produção de agricultores familiares da Comunidade Vila Bom Jesus


Reportagem de Franci Monteles, com fotos, imagens e edição de vídeo de Ingrid Barros. Produção de Rogério Albuquerque, edição de texto por Daniel Nardin, Nara Bandeira e revisão de Rodolfo Rabelo. Esta série especial do Amazônia Vox foi viabilizada em parceria com o Instituto Bem da Amazônia com o apoio da Fundação Avina e do WWF-Brasil, através do programa Vozes pela Ação Climática Justa.



Fazia tempo que a iúna, ave que vive em pantanais e beiras de lagos e rios com margens arborizadas ou vegetação rasteiras, não aparecia na Comunidade Vila Bom Jesus, no município de Lago Verde, Maranhão, a 270 quilômetros da capital São Luís. Mas, desde que as barraginhas foram implantadas na propriedade do agricultor familiar Wesley Nascimento, o cenário mudou. “A gente percebeu a volta de alguns animais que há tempos não apareciam mais na região como o tatu, a capivara e a iúna. Eles vêm beber água e se alimentar em volta das barraginhas”, comemora o trabalhador.


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Mas você sabe o que são barraginhas? A gente te explica. É uma tecnologia social desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), como uma solução para os desafios ambientais enfrentados pelos agricultores, sobretudo em regiões semiáridas e áreas impactadas pelas mudanças climáticas. Consistem em bacias escavadas no solo, projetadas para captar enxurradas, controlando erosões e permitindo a infiltração da água das chuvas no terreno e a recarga do lençol freático. 


Na comunidade maranhense são cinco barraginhas, espalhadas em 10 hectares. Elas foram instaladas em 2023, próximo a um açude de mais de 40 anos. Cada uma tem, em média, 20 metros de diâmetro. Ao redor delas são plantadas árvores para ajudar a manter a umidade. 


A tecnologia, utilizada e validada em outros biomas brasileiros como Mata Atlântica e Caatinga, adotada como alternativa para mitigar os efeitos das crises climáticas, tem gerado mudanças significativas na Vila Bom Jesus, entre as quais, a presença de novos olhos d’água, vegetação mais verde e mais umidade. “As barraginhas estão fazendo o papel delas de infiltrar água para o solo e ajudar a manter mais água no açude”, observa o jovem agricultor de 24 anos, que cultiva não apenas o sustento da família, mas também o amor pela terra, pela agroecologia, pelos animais, pela natureza e pelo meio ambiente.  


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A solução tem ajudado também a amenizar os efeitos das mudanças climáticas para a produção. “O verão tem sido difícil, pois está bem mais seco e cada vez mais prolongado. Se não fossem as barraginhas, seria bem mais difícil produzir”, reforça Wesley, que trabalha com agricultura familiar desde os 14 anos, ofício herdado do pai e do avô nas terras adquiridas por meio de um projeto de assentamento do Incra. Em 2024, lembra ele, o verão foi bem seco e quase não teve chuva. A umidade das barraginhas e a água perto para irrigar foram importantes para manter a plantação viva. Caso contrário, teria perdido a produção, o que aconteceu com vários produtores da região. 


A consciência ambiental é conduta do jovem agricultor que adota práticas agroecológicas. Na adolescência, via o pai utilizar agrotóxico para matar pragas, mas começou a estudar formas diferentes de produzir, pois percebia que era prejudicial à terra e tinha que esperar até quatro anos para produzir na área. “Trabalhando de forma agroecológica, a gente faz a rotatividade de cultura e no ano seguinte já consegue plantar”, afirma Wesley, mencionando o importante incentivo à agroecologia dado pela Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura (Acesa), organização com sede no município de Bacabal, que atua na região do Mearim, no Maranhão. 


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A implantação da tecnologia social em Bom Jesus foi viabilizada pelo projeto piloto “Barraginhas como estratégia de fortalecimento da adaptação de sistemas agroecológicos às mudanças climáticas na Amazônia”, implantado pela Acesa em coalizão com a Associação Agroecológica Tijupá, a Associação Justiça nos Trilhos (JnT), a Rede de Agroecologia do Maranhão (Rama) e o Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente da Universidade Federal do Maranhão (Gedmma/UFMA). O projeto tem o apoio da iniciativa BASE em parceria com o Programa VAC, da Fundação Avina e foi implantado em mais dois municípios maranhenses de Rosário e Açailândia.


Mudanças climáticas 


De acordo com o professor Horácio Antunes, coordenador do Gedmma/UFMA, as mudanças climáticas têm deixado situações graves para as comunidades rurais do Maranhão. São chuvas cada vez mais intensas e estiagens prolongadas e com temperaturas mais elevadas, o que tem prejudicado também a produção. “As barraginhas podem se constituir importantes instrumentos para garantir a reposição dos lençóis freáticos e para garantir uma maior umidade do solo. Isso garante às comunidades terem ritmos produtivos mais constantes e reprodução enquanto modo de vida”, explica o professor. A experiência, segundo ele, tem sido muito exitosa e se espera que, a partir da verificação da eficácia, possa ser expandida para outras comunidades rurais do Maranhão. O Gedmma/UFMA faz o acompanhamento científico do projeto avaliando os impactos ambientais, sociais e econômicos. 


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No Maranhão, existem apenas duas estações do ano percebidas pela literatura especializada e pela população: o inverno, a estação chuvosa (novembro a julho); e o verão, período da estiagem ou seco (julho a novembro), conforme dados do Núcleo Geoambiental (NuGeo7), citado no relatório do Gedmma/UFMA. O relatório menciona ainda estudos do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) com a previsão de que até 2070, os 217 municípios maranhenses tendem a ficar até 5° C mais quentes e a ter diminuição de até 32% em seu regime de chuvas. 


Os reflexos das mudanças climáticas no Brasil e no mundo são percebidos na prática pelos agricultores familiares da Vila Bom Jesus, que possui em torno de 50 famílias, das quais 20 ligadas diretamente ao projeto das barraginhas. A maioria formada por mulheres quebradeiras de coco babaçu, que vivem da agricultura familiar, entre elas, Maria da Conceição Paixão, conhecida como Santinha. Há 18 anos no projeto de assentamento, a vizinha de Wesley já sente as consequências das mudanças do clima na região. “Antigamente, o inverno e o verão eram bons. O verão era forte, mas tinha chuva também. Hoje não. O inverno é inverno, quando o verão chega queima tudo e a produção é menor”, diz a agroextrativista.  


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A expectativa de Santinha é que a tecnologia social seja adotada como uma política pública e implantada para mais famílias de agricultores familiares no Maranhão. Ela produz maxixe, quiabo, cebola, azeite de coco babaçu, pimenta de cheiro, frutas, melancia, manga e caju. “As barraginhas guardam água e não tem outra opção melhor pra nós lidar com nosso trabalho”, afirma, ao ressaltar que é necessário o incentivo por parte do poder público para a implantação de mais barraginhas na região. 

Resumo da Solução


Problema

As mudanças climáticas estão afetando a produção agrícola no Maranhão, com chuvas cada vez mais intensas e estiagens prolongadas, prejudicando a vida das comunidades rurais. A falta de água e a degradação do solo são problemas graves que precisam ser abordados para garantir a segurança alimentar e a subsistência das famílias agricultoras.


Resposta

A tecnologia social das barraginhas, desenvolvida pela Embrapa, está sendo implementada na Comunidade Vila Bom Jesus, no Maranhão, como uma solução para os desafios ambientais enfrentados pelos agricultores. As barraginhas são bacias escavadas no solo que captam enxurradas, controlam erosões e permitem a infiltração da água das chuvas no terreno, recarregando o lençol freático e aumentando a umidade do solo.


Por que isso é uma solução climática?

A implementação das barraginhas é uma solução climática eficaz porque ajuda a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, garantindo a reposição dos lençóis freáticos e a manutenção da umidade do solo. Isso permite que as comunidades rurais tenham ritmos produtivos mais constantes e uma maior segurança alimentar, além de contribuir para a conservação, pois as plantas podem se desenvolver melhor em condições de solo mais úmido.


 
 
 

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