Jamais Deixaremos de Ser
- acesabacabal
- 24 de set.
- 2 min de leitura
“Hoje em dia, com os movimentos, a gente tem orgulho de ser. Em todo lugar, a gente fala: uma quebradeira de coco pode ser tudo — advogada, professora, tudo —, mas jamais deixa de dizer e ser quebradeira de coco.” (Maria Batista, Lila).

Naquele tempo, criancinha, eu caminhava entre os babaçuais, seguindo os passos de minha mãe, voltava meu olhar para cima e, sob um fundo de céu azul, contemplava aquela mulher em pé, caminhando firme. O compasso de seus passos entrelaçava-se aos cantos de pássaros e à chiadeira das palhas do babaçual, agitadas ao vento. Contemplava tanta riqueza: aqueles cachos de coco, que nos abençoavam com beleza, com cor, com sustento. A palmeira é generosa. Sentia que a palmeira se conectava a mim através da minha mãe, dona Deuzinha, que também, com generosidade, doava de si mesma, transbordando de amor e abundância.
Ser quebradeira de coco é, para além do valor econômico ou da própria produção, afeto herdado, de geração em geração. Nós, mulheres, nos nutrimos nas palmeiras de coco babaçu assim como uma mãe que nutre seus filhos e filhas. O fruto da palmeira, o coco, tem um bico, como um seio que alimenta e sustenta. Como diz dona Deuzinha: “Foi desse coco que minha mãe me criô só e eu criei minhas fia.”
A palmeira, como muitas gostamos de falar, nos dá de tudo. É dela que tiramos os sustentos e, até no fim de seu ciclo, quando uma palmeira morre, ela nos deixa adubo para a plantação de nossos alimentos. Por isso, uma quebradeira, não importa o espaço que ocupa, sempre será quebradeira, pois essa relação com a palmeira é um laço que não quebra. Só quem é sente e sabe o amor por uma palmeira.
Apesar das violências que nos cercam, que querem acabar com as palmeiras e invisibilizar as quebradeiras de coco, as mulheres nunca deixarão. Elas sempre resistem e resistiram ao longo dos anos. E sempre resistiremos, pois são as raízes das palmeiras que nos conectam em grupos e movimentos, alimentando nossa luta sem trégua pela nossa identidade e por babaçuais livres e de pé. Vanessa Cristina Neco
Quebradeira de Coco e Assessora Técnica da Acesaessora
Técnic Dicas de leitura:
ARTIGO: Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura (ACESA), Quebradeiras de Coco Babaçu e agroecologia no Maranhão
DIAGNÓSTICO: Desafios enfrentados por quebradeiras de coco babaçu para garantia dos seus direitos de livre acesso aos babaçuais nos municípios de São Luís Gonzaga, Bacabal e Lago Verde, no Maranhão




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