Trabalho de meliponicultoras gera renda e conserva a natureza no Maranhão
- acesabacabal
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Atividade com as abelhas nativas sem ferrão permite a relação direta com a natureza e a preservação dos ecossistemas na região do Baixo Munim
Reportagem de Franci Monteles e Yndara Vasques, com fotos, imagens e edição de vídeo de Ingrid Barros. Produção de Rogério Albuquerque, edição de texto por Daniel Nardin, Nara Bandeira e revisão de Rodolfo Rabelo. Esta série especial do Amazônia Vox foi viabilizada em parceria com o Instituto Bem da Amazônia com o apoio da Fundação Avina e do WWF-Brasil, através do programa Vozes pela Ação Climática Justa.
O contato de mulheres com as abelhas nativas sem ferrão, da espécie tiúba, na Comunidade Timbó, no município de Morros (MA), vai muito além da produção do mel que garante o sustento de suas famílias. É uma relação harmoniosa de cuidado, proteção ao meio ambiente e que demonstra o papel de guardiãs dos pequenos insetos.

“São minhas meninas. Eu converso com elas. Se eu ficar doente, elas também ficam. Às vezes, elas botam meu menino pra correr. Quando eu vou ao meliponário, elas não me botam pra correr. Elas me conhecem”, conta, cheia de orgulho, Ivanilce dos Santos, conhecida como Nicota, agricultora familiar e meliponicultora, que há 18 anos cria de forma racional as abelhas tiúba para a produção de mel. O produto garante 80% do sustento da família. A roça é um complemento da renda.
A Nicota é uma das cinco meliponicultoras que integram a Associação das Produtoras do Povoado Timbó. A iniciativa começou em 2006 com o apoio da Associação Agroecológica Tijupá, organização que tem na essência o trabalho com as abelhas para a produção do rico alimento, o mel. O objetivo é incentivar a produção de alimentos saudáveis, gerar renda e contribuir com a preservação dos ecossistemas da região do Baixo Munim, no Maranhão.
Cada produtora, na época, recebeu um kit com duas caixas de madeira para formação das colmeias e capacitações para aprender as técnicas de manejo. A extração do mel é feita nos meses de agosto e setembro, ainda de forma bem artesanal, utilizando uma seringa para sugar o produto dos favos (ou potinhos, como são chamados).

Ao mesmo tempo, o trabalho é feito com delicadeza. “Tem que puxar lentamente. Não pode tirar do pote que não está totalmente fechado, pois ainda não é mel”, explica Nicota, que atualmente possui 43 caixas agrupadas em seu meliponário. Em 2024, ela produziu 80 kg de mel. O produto é vendido em embalagens de 300g e 500g, ao preço de R$ 45 e R$ 50, respectivamente.
Meliponicultora: instrumento de fortalecimento da sociobiodiversidade
Dona Terezinha de Jesus Costa Silva, 50 anos, também fala do prazer em trabalhar com as abelhas sem ferrão e ser uma produtora de mel. “Comecei com duas caixas e no momento tenho 12. Trabalho no quintal da minha casa e gosto de trabalhar com as tiúbas e produzir mel”, diz a meliponicultora. Parte da produção é utilizada para consumo próprio e outra para venda.

A meliponicultora tem sido importante instrumento de fortalecimento da sociobiodiversidade local. A atividade permite a relação direta com a natureza, o respeito à terra e valoriza saberes tradicionais. Sem as abelhas, perde-se grande parte da natureza, pois são polinizadoras essenciais para a reprodução de diversas espécies de plantas tanto nativas quanto as cultiváveis.
Para a técnica agrícola da Tijupá, Leila Cardoso, a atividade permitiu às mulheres de Morros terem uma fonte de renda complementar e sustentável. Elas também reafirmaram seu papel como guardiãs da biodiversidade. Esse protagonismo das mulheres é apoiado pela Tijupá em cinco municípios (Morros, Rosário, Cachoeira Grande, Belágua e Barreirinhas), envolvendo 13 comunidades e 20 produtoras. A ação integra algumas das iniciativas da Coalizão Agroecologia para Proteção das Florestas da Amazônia.
“O que vemos na comunidade Timbó não é apenas a produção de mel, mas o florescimento de uma prática que conseguiu unir renda, resistência e reconhecimento tanto no campo como na meliponicultora, o que é essencial também para o enfrentamento das mudanças climáticas”, afirma Leila Cardoso.

Alerta nas matas: extração de mel sem controle
É fato que a meliponicultura contribui para a mitigação das mudanças climáticas por meio da conservação e recuperação de habitats naturais. Mesmo assim, o ecossistema da região não está livre das agressões. Se de um lado as mulheres têm uma relação harmoniosa com as abelhas nativas, por outro, existe a ameaça dos meleiros, pessoas que fazem a extração de mel nas matas, de forma nada racional com fins comerciais.
“O meleiro sempre existiu. Só que agora aumentou. Na época dos meus avós, o mel era para alimento e remédio”, lembra Nicota, ao recordar que o meleiro derruba a casa das abelhas, extrai o mel, mas não se preocupa com os insetos, se vão viver ou morrer. Atualmente, as meliponicultoras de Timbó resgatam as abelhas que são deixadas pelos meleiros na mata. A própria vizinhança é quem faz o aviso. As abelhas filhas resgatadas são introduzidas nos meliponários onde conseguem sobreviver e produzir. “É por isso que eu me considero uma guardiã das abelhas tiúbas”, diz Nicota.
O fogo também é outra ameaça às abelhas nativas na comunidade. Algumas pessoas derrubam as árvores para produzirem carvão vegetal. As queimadas estão cada vez mais intensas, o que acaba prejudicando as floradas e os alimentos das abelhas. Nicota diz que já percebeu a diminuição das abelhas na região. “Em razão também do verão que está sendo muito forte pra elas e as floradas estão diminuindo. A florada está ficando cada vez mais difícil. No ano de 2023, o mel estava bem fraco”, conta.
A abelha tiúba

A tiúba é uma espécie diferenciada por ser seletiva, escolhe a flor e é capaz de ir várias vezes na escolhida. Em Morros predomina o mel da florada do mirim, uma espécie de fruta comum no povoado. O resultado é um mel com adocicado mais suave. Em Timbó, as tiúbas também se alimentam do néctar de flores do urucum, murici, juçara (açaí), buriti, bacuri e mangaba.
De acordo com o trabalho de monografia de Jerluana Portela da Silva, do curso de Zootecnia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), cerca de 400 espécies de abelhas nativas são encontradas no Brasil. O nordeste brasileiro é a segunda região que produz a maior parte do mel no país, diz o estudo. É uma espécie dócil, o que torna mais fácil o manejo sem o uso de luvas, máscaras e fumigadores. O manuseio não exige força física e pode ser feito por jovens, adultos e idosos, tornando o custo mais acessível para quem deseja iniciar seu negócio.
Resumo da Solução
ProblemaA comunidade de Timbó, no Maranhão, enfrenta ameaças à biodiversidade e ao ecossistema local, incluindo a extração de mel sem controle por meleiros e o uso de fogo para produção de carvão vegetal, o que prejudica as floradas e os alimentos das abelhas nativas. Além disso, as mudanças climáticas estão afetando a disponibilidade de alimentos para as abelhas, levando a uma diminuição da população de abelhas na região.
RespostaEm resposta a esses desafios, as mulheres da comunidade de Timbó estão trabalhando com meliponicultura, criando abelhas nativas sem ferrão da espécie tiúba, para produzir mel e contribuir para a preservação do meio ambiente. A Associação das Produtoras do Povoado Timbó, com o apoio da Associação Agroecológica Tijupá, está promovendo a produção de alimentos saudáveis, gerando renda e contribuindo para a preservação dos ecossistemas da região.
Por que isso é uma solução climática?Essa iniciativa é uma solução climática eficaz porque promove a conservação e recuperação de habitats naturais, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas. Além disso, a meliponicultura é uma atividade que fortalece a sociobiodiversidade local, valoriza saberes tradicionais e promove a relação direta com a natureza, o respeito à terra e a valorização das abelhas nativas como polinizadoras essenciais para a reprodução de diversas espécies de plantas.
Fonte: Amazônia Vox




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